O estudo da Teologia certamente parecerá pouco útil àqueles que desconhecem do que se trata o labor teológico, especialmente no secularizado séc. XXI. Até mesmo cristãos podem desconhecer a profundidade crítico-reflexiva que a Teologia proporciona. Sugerimos um dos culpados por esta triste ignorância: as “Teologias Reprodutivas”. As “Teologias Reprodutivas” são produções teológicas que nada acrescentam, inovam ou atendem as demandas deste tempo. Tão somente reproduzem de forma diferente as mesmas ideias de séculos passados, cuja relação contextual com o mundo contemporâneo é mínima. É exatamente por isso, a ausência de diálogo com o tempo presente, que as pessoas acabam por desprestigiar a Teologia em si e, consequentemente, todos os seus benefícios. Este pequeno texto pretende evidenciar que a Teologia tem profunda relação com as dimensões sócio-políticas do presente. Mais que isso, que a o labor teológico é algo artístico.
Em defesa de uma teologia pertinente ao leitor contemporâneo, o primeiro elemento teológico indispensável é a revelação bíblica. O texto sagrado narra a histórias que nos revelam a relação Deus-homem de homens e mulheres do passado. Não se trata de pessoas estritamente religiosas e com dedicação integral à instituições de cunho religioso. São pessoas comuns. Especialmente o Novo Testamento testemunhado Deus-homem – Jesus Cristo – que, para além de um discurso religioso, sente a humanidade, tendo compaixão e se doando por gente renegada socialmente, principalmente pela classe religiosa instituída. O pobre, o oprimido, o solitário, o perdido, entre outros “quase nadas”, são encontrados por Deus e recebem boas notícias do Sagrado.
Quando a Teologia se propõe a estudar as Sagradas Escrituras, mais do que a análise técnico-exegética dos textos, ela se preocupa em analisar as narrativas bíblicas. Para a Teologia o texto não é um fim em si mesmo. O labor teológico crítico-reflexivo do teólogo o leva a perceber o texto como fonte de inspiração para novas e diferentes experiências de Deus no presente. A lente interpretativa da Bíblia – hermenêutica – não precisa ser literalista, fundamentalista ou com ênfase proposicional, no sentido de uma busca desenfreada pela Verdade Absoluta na letra do texto. O teólogo analisa o texto, analisa o mundo atual e se pergunta como o Cristo das Escrituras encarna no séc. XXI. Produzir teologia é criação de espaços para pessoas encontrarem Deus hoje, em seu respectivo contexto.
As possibilidades que se abrem são muitas. A Teologia de teólogos empenhados em produzir – não reproduzir – sente as dores do mundo, tem vontade de quebrar as correntes dos presos, de tornar a fome passado, de ver beleza no pobre que sorri pelo pão que é dado. A vida humana, a sociedade, o pecado estrutural, a arte, a política, nada fica imune ao Cristo encarnado no agora. Nesse sentido, o teólogo é um artista, pois iluminado pelo texto sagrado e atento aos gritos de socorro do mundo, produz conteúdos que alcançam corações e fazem desejar nova vida. O leitor, através da “arte teológica”, percebe a possibilidade real de encontro com Deus, encontro este que o fará não ser mais o mesmo. A história de Pedro, Tiago e João ou Abraão, Isaque e Israel, torna-se a história do leitor. O leitor passa de oprimido para libertador nas mãos do Deus que o libertou. Texto vira vida. Vida com boa notícia e fé que faz da vida aventura com Deus.
Parabenizo neste dia do teólogo os colegas e amigos que produzem uma teologia que encanta o mundo, inspira vidas e que encarna o Cristo. Parabenizo, portanto, artistas nas mãos do Oleiro.
André Anéas