Resenha do Livro: “As Origens da Adoração Cristã”

As Origens da Adoração Cristã

Larry W. Hurtado é um historiador especialista em Novo Testamento. Leciona pela universidade de Edimburgo na Escócia nas matérias de Línguas, Literatura e Teologia. Entre seus livros estão “Um Deus, um Senhor”, “Antigo monoteísmo judaico” e “As origens da adoração cristã”, o qual este trabalho se propõe a estudar.

No trabalho analisado – “As origens da adoração primitiva” – Hurtado se propõe a investigar questões históricas que cercam o culto cristão primitivo. Suas ênfases são o contexto romano, com toda sua religiosidade, o judaísmo e a adoração cristã primitiva. Esta é a proposta dos três primeiros capítulos. No último capítulo, a proposta de Hurtado é trabalhar com o culto cristão contemporâneo.

Hurtado tem como escopo de trabalho analisar os dois primeiros séculos do movimento cristão. É colocado por ele que a principal atividade dos cristãos primitivos era a celebração do culto. A partir daí, ele procura uma compreensão do desenvolvimento inicial da devoção à Cristo, observando as práticas devocionais dos cristãos. O que é importante frisar é a perspectiva pela qual Hurtado se propõe a entender a adoração cristã. A grande pergunta feita pelo autor é o que o culto cristão tinha que o tornava “competitivo” com os demais sistemas religiosos da Era Romana, uma vez que tais sistemas eram extremamente sofisticados. O autor coloca que o cristianismo era muito menos imponente que a religião pagã, mas mesmo assim possuía seus adeptos.

É muito interessante a observação de Hurtado, que ressalta sim a presença de céticos em relação à religião mesmo na Era Romana – chamados de literali – , de forma semelhante aos dias atuais. Porém, é clara a maioria esmagadora de pessoas religiosas, que com regularidade e entusiasmo participavam das atividades relacionadas à religião. Existe um alerta importante do autor, pois muitas vezes estamos envoltos a uma sociedade secularizada, na qual a religião é um passatempo particular e cujo papel é limitado socialmente. No caso da religião do mundo romano é exatamente o contrário. Tudo indica uma participação entusiástica, inclusive com muitos relatos de favores e preces atendidas por parte das divindades. O que se compreende é que os deuses estavam em ação e a devoção à eles “funcionava”.

Logo na introdução, Hurtado cita um exemplo que nos revela a seriedade e profundidade do trabalho. O que significaria chamar Jesus de “senhor”? Embora os muitos significados que a palavra “senhor” possa ter em sua língua original, o autor entende que deve existir um entendimento da palavra dentro do contexto específico em que ela foi usada. Sem dúvida, este tipo de análise faz muito sentido, pois as palavras mudam de significado de tempos em tempos. Uma simples análise etimológica não teria precisão. O fato dos cristãos primitivos se dirigirem a Jesus como “senhor” em suas celebrações, possui mais um caráter específico do que uma conotação mais genérica.

Além das expressões verbais, analisar o culto dos cristão primitivos na perspectiva das manifestações religiosas da época possui grande importância. É ressaltado pelo autor que a orientação e o compromisso religioso das pessoa são expressos através do culto, o que é desprezado por alguns historiadores. Existem relatos que estes primeiros cristãos rejeitavam cultos aos deuses tradicionais, sofrendo grandes acusações. Eles, quando entregues aos tribunais, eram obrigado a certas práticas cultuais (invocação de deuses, oferecendo incenso à imagem do imperador e blasfemar contra Jesus). Por estas questões, Hurtado afirma a fundamental importância das práticas devocionais e sua análise para compreensão do cristianismo antigo, o que o autor faz com excelência.

Duas característica que permeiam todo o trabalho são: o exclusivismo do culto cristão primitivo, pois se desprezava o culto às divindades romanas e a exclusividade e devoção ao Deus da Bíblia e a Cristo. Os dois primeiros capítulos terão como premissa esta exclusividade. O terceiro capítulo, o foco será o “modelo binitário”, em que se debate como o cristianismo primitivo, com uma proposta monoteísta, entendia os dois papéis em sua adoração: Deus e Cristo. No último capítulo, Hurtado respaldado com todo seu conteúdo histórico da igreja e muito alinhado com os questionamentos contemporâneos, consegue discutir questões muito relevantes acerca dos dias atuais. Com críticas pertinentes, leva o leitor a questionar e se questionar sobre o culto prestado ao Deus da Bíblia.

O ponto mais atraente destacado por Hurtado, em minha opinião, é o que ele nos fornece quando trata do fervor dos cristãos primitivos, pois responde bem a questão do porquê o culto cristão conseguia seus adeptos frente a “concorrência”. Uma vez que os cristãos primitivos não tinham o mesmo “glamour” das religiões circunvizinhas, eles possuíam algo determinante para o sucesso do cristianismo. Em toda a simplicidade e na ausência de templos glamorosos, estes cristãos desfrutavam dos dons do Espírito de vários tipos, o que resultou em grande fervor e adoração. Era comum a sensação de encontro com o divino e êxtase religioso, o que compensou a ausência dos elementos e atividade marcantes nas festas pagãs, as quais muitos dos então cristãos abriram mão.

Inteligentemente, o autor se utiliza de instruções de Paulo as igrejas que caracterizam que era conhecido dos crentes este ambiente em que as experiências religiosas aconteciam. Os inúmeros dons dos coríntios, os “cânticos espirituais” de Efésios e Colossenses, além da instrução clara para “não apagar o Espírito” aos de Tessalônica. De fato os cristão entendiam que estavam experimentando as coisas celestiais, que tinham recebido o Espírito Santo. A “alegria” e o “regozijo” são palavras presentes no NT, alegria relacionada a experiência direta com Deus – “numinoso”.

O tipo de proclamação, como advertências sobre apostasia e salvação escatológica a se realizar no retorno de Cristo, são evidências de uma fé experiencial, cujo fervor estava presente. Este fervor para se sustentar devia ser cultivado de forma sistemática. A presença do desânimo e desorientação eram combatidos nos encontros, pois se tornavam momentos de renovar este fervor por meio da adoração, louvor e fenômenos que acompanhavam os cultos. A pesquisa de Hurtado nos mostra que estes cultos eram realizados de forma verdadeira e convicta pelos fiéis, que de fato criam que Deus estava vivo e se manifestava no meio deles.

O que vemos é um belo trabalho, no qual se percebe compromisso com os fatos e com as evidências de como a adoração neste período cristão primitivo se dava. O autor consegue traçar paralelos entre evidências históricas e textos bíblicos, o que traz para o leitor informações muito úteis para se fazer uma exegese correta do texto. Poderia citar outros grandes destaques da leitura, mas procurei concentrar-me nos que mais chamam a atenção e respondem melhor o que o cristianismo primitivo desfrutava em seus culto a ponto de torná-lo grandemente difundido. Sem dúvida, a resposta nos faz questionar se nosso culto possui a mesma “relevância” dos nosso irmãos dos primeiros séculos depois de Cristo.

André Anéas

Bibliografia:

HURTADO, Larry W.. As origens da adoração cristã. São Paulo: Vida Nova, 2011.

NOVA, Vida. Sobre o autor. , 2013. Disponível em: <http://www.vidanova.com.br/autores.asp?codigo=258>. Acesso em: 12 abr. 2014.

Avaliação do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Após a leitura do livro, posso afirmar que se trata de uma das melhores leituras que realizei. Isto se deve a maneira como o livro mexeu com minha vida, graças a profundidade com que o autor aplica os princípios na estória e nos leva a relacioná-los com nosso ser. Somos motivados à auto compreensão através de um confrontamento e “choque” de realidades (Rei Davi x “meu eu”).

Outro ponto de alta relevância no livro é a relação do homem com Deus. No decorrer da leitura somos levados a nos colocar na posição das personagens, porém, em situações cotidianas. Conseguimos facilmente comparar nossa relação com o Criador frente às inúmeras situações de injustiça, autojustificação e decisões como as passadas pelo rei Davi (em suas diversas fases ou “crises”). O autor consegue nos instigar, quase que persuasivamente, a nos fazer parar a leitura para refletir no nosso “eu” e orar ao Pai.

Excelente leitura e meditação.

André Anéas

Breve Resumo [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Destaques do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Argumentos [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Argumentos [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

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Argumentos do autor

A. O primeiro argumento que consigo identificar diz respeito a necessidade de decidir por confiar no Senhor e não no nosso senso de justiça. Acredito que o autor coloca este ponto devido a incapacidade do ser humano compreender os desígnios de Deus para o homem. O que pode nos parecer injustiça para Deus pode ser a situação ideal para o amadurecimento e treinamento, visando colocar a pessoa no lugar que Ele preparou no futuro. No livro, o autor coloca que o líder precisa ser quebrantado. Saul passa a ser instrumento de Deus na vida de Davi, pois Davi confia no Senhor e se submete a este tratamento do Senhor.

B. Outro argumento do autor é de que os dons não podem ser revogáveis. Ou seja, existem pessoas extremamente capacitadas e que podem realizar grandes feitos. Porém, estes mesmos podem arremessar lanças, odiar os outros, realizar planos para matar, não demonstrando uma transformação interior. Mesmo com atitudes erradas o dom permanecerá.

C. Quando é tratado acerca do dilema que Davi passa, de não compreender (ter certeza) se é a vontade de Deus que Absalão assuma o trono ou se ele deveria se posicionar contra, é argumentado que nunca teremos certeza absoluta. Que isto caberia somente a Deus.

D. O autor fala também sobre o conceito de autoridade no Reino de Deus. Fica bem claro que é Deus quem as constitui as autoridades e cabe a todos se submeter a autoridade levantada.

E. A estória aborda um argumento acerca de liderança. É colocado pelo autor que a liderança correta não é imposta por força e autoritarismo, mas sim pelo exemplo do líder. Davi enquanto estava vagando em sua fuga de Saul é surpreendido pelos soldados que se rebelam contra o rei. Davi não aceita liderá-los, pois não concorda com a postura rebelde deles. Mesmo assim, sem impor sua liderança e sequer tocar na palavra “autoridade”, os soldados passam a se submeter a ele, pois o enxergam como líder.

Argumentos do autor que concordo

A. Concordo com a necessidade de termos confiança e dependência em Deus. Nosso ímpeto é sempre de olharmos para situação no momento e, muitas vezes, é fácil tomarmos decisões pautadas em análises superficiais. Não são raros os momentos em que somos cheio de uma sabedoria medíocre, que fica muito aquém da soberania de Deus e do plano que Ele tem para nós. Muitos são os momentos em que, após decisões erradas e, as vezes, anos de consequência, a ”ficha cai” para realidade de que o Senhor tinha um propósito que nos passou despercebido.

Não concordo

B. No que diz respeito aos dons, concordo parcialmente com o autor. Ele é muito categórico em afirmar a não revogação dos dons. Entretanto, em minha opinião, Deus pode exercer juízo sobre quem detém o dom. Por que Deus não poderia revogar o dom? Não foi Ele mesmo quem deu? Falo acerca dos dons espirituais.

C. Não concordo quando é colocado que não podemos ter a certeza de que estamos tendo a atitude certa perante uma situação. Ao meu ver, em alguns casos (não sei dizer se na maioria ou não) não conseguimos ter a clareza do nosso discernimento em determinadas situações. Perguntas como “devo agir favoravelmente a algo que sei que é justo (sendo talvez ‘usado’ por Deus para fazer justiça)?” ou “não devo agir favoravelmente, mas sim depender do Senhor (e não sendo ‘impulsivo’ a fazer justiça com minhas próprias mãos)?” surgem. Dentro deste contexto existe outra questão: devemos orar ou agir ou orar e agir. Acredito que esta dúvida é uma realidade no caminhar cristão. Entretanto, não vejo a dúvida como uma regra. Deus pode sim te dar clareza de como agir e também do porque agir.

D. Concordo em parte com o princípio de autoridade do Reino de Deus colocado pelo autor. Creio que as autoridades são constituídas por Deus, porém, as vezes Deus permite que a autoridade se levante, não sendo a Sua vontade perfeita. A atitude de Davi foi a correta e devemos seguir este exemplo de submissão. Entretanto, existem muitos exemplos bíblicos de profetas que profetizaram contra a autoridade instituída. Vemos isto claramente nos livros de Reis.

E. No que diz repeito a maneira de impor liderança, concordo com o autor também em partes. Acho fantástico conquistar uma posição de líder sendo reconhecido por seus liderados e não por força ou tentativa de defesa de posição. Porém, vemos o apóstolo Paulo defendendo seu apostolado. Pode existir esta necessidade dependendo do caso.

André Anéas

Breve Resumo [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Destaques do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Avaliação do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Destaques do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

leitorImportância da simplicidade de um “pastor”

Na simplicidade de Davi como pastor de ovelhas, percebemos claramente como sua relação com Deus forma e molda seu ser. No decorrer da leitura fica evidente que esta primeira fase de “simplicidade” e, mais do que tudo, honestidade, faz com que Davi tenha um caráter íntegro e dependente de Deus. Percebo claramente que a maneira como Deus prepara o homem exige, antes de tudo, que o homem tenha um coração totalmente voltado para seu Deus. Davi sabe que mesmo na simplicidade da vida de pastor de ovelhas, ele tem algo precioso, que o torna realizado. O medo foge de Davi, pois ele tem certeza de que quem ele crê está próximo dele na pastagem, nas montanhas, em seu dia-a-dia.

Caráter e valores bem definidos são fundamentais

A humildade de Davi é claramente demonstrada quando ele se submete a Deus. Mesmo diante da certeza de seu reinado, Davi se submete a Saul de maneira reverente. A inveja e as lanças de Saul não afetam o ser de Davi e de maneira nenhuma o faz “jogar” o jogo sujo.

Em contraste, vemos Saul dominado pelo seu egoísmo e arrogância. A autojustificação de Saul o leva a uma condição de vida comprometedora diante de Deus, pois sua justiça é demonstrada superior. Devido a esta superioridade do ‘ser’ de Saul, seus valores e princípios, relacionados a Deus, são demonstrados frágeis e instáveis.

O ápice da demonstração de quem Davi está se tornando acontece quando as lanças de Saul não são devolvidas. Davi foge (de maneira nenhuma por medo) por temor ao seu Deus soberano que colocou Saul como rei.

Dependência de Deus

Nos momentos de fuga, nas cavernas, a dependência e relação com Deus, consolida o caráter de Davi (o preparando para o reinado). Mesmo inconscientemente, Davi revela-se um exemplo aos seus soldados daquilo que Deus deseja. Pois, embora haja vontade de fazer justiça, há misericórdia. Davi revela algumas facetas de Deus aos seus soldados (pois estas facetas estão sendo nele, pois assim Deus o faz), demonstrando-as em suas atitudes frente às decisões que ele toma.

Dizer adeus a auto-justificação

Na terceira fase, o autor coloca a decisão trivial de Davi. É colocado diante dele a possibilidade de ser justo e não abrir mão da justiça. Entretanto, Davi consegue perceber que se fizer justiça ele mesmo se fará como Saul. No auge do poder ele é tentado a achar que a posição que ocupa é dele por direito. Cogita lançar suas lanças para defender o “seu” ser. Esta crise o leva a refletir e perceber (e nos leva também) que agindo assim não haverá diferença entre Davi e Saul. Que tudo seria em vão e que se tornaria exatamente aquele “problema” que enfrentara quando recebera lanças em sua direção e quando fugira para se submeter a vontade de Deus.

Davi não escolhe se autojustificar, aliviando o peso de uma decisão em prol do que é “seu” por direito. Ao contrário, Davi revela-se em posição passiva, pois desde os tempos de pastor ele sabe que o poder pertence ao seu Deus. A dúvida é o porquê de Deus dar e tirar. Por qual razão Deus assim age? Davi compreende que esta resposta não pertence a ele, mas a Ele. Davi novamente se submete e descansa no Senhor.

André Anéas

Breve Resumo [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Argumentos [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Avaliação do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Breve Resumo [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

O livro narra a estória de um período do reino de Israel. Mais especificamente a estória de três reis que passaram pelo trono sucessivamente: Saul, Davi e Absalão. No decorrer da estória o escritor nos leva a uma reflexão abordando temas como poder, auto-justificação, justiça (injustiça), liderança, liderados e “treinamento” de Deus. Dentro destes temas nos é proposta uma análise das intenções, valores e princípios que regem a vida de cada um dos reis. Pode-se dizer que ao menos parte do perfil (personalidade) de cada rei é revelada, podendo ser de maneira geral um rei bom (Davi) ou mal (Saul). Em paralelo, é possível perceber a mão de Deus por de trás dos acontecimentos.

Perfil de Três Reis

A estória constitui duas partes. Na primeira temos Saul no trono e Davi como pastor de ovelhas, vindo posteriormente a ocupar uma posição de destaque junto ao rei. Davi demonstra-se um homem temente a Deus e confiante no Senhor. Os valores e a coragem de Davi, desenvolvidos na época de pastoreio de ovelhas, o leva a fazer parte do convívio de Saul. Porém, Saul passa a enxergá-lo como uma ameaça ao trono e se inicia um conflito entre os dois. Davi, surpreendentemente, mesmo sendo ungido pelo profeta Samuel para ser rei em Israel, se submete a autoridade do rei, certo de que ela é dada por Deus. No decorrer da narrativa, Saul passa a persegui-lo, querendo matá-lo. Davi foge e mesmo nas oportunidades que tem, não ousa ferir ou ter uma posição de insubmissão ao rei, que considera “ungido do Senhor”.

Na segunda parte do livro temos Davi no trono e seu filho Absalão se rebelando contra o pai na tentativa de tomar o trono. Neste momento Davi entra em um dilema: Lutar para assegurar o trono que é seu por direito, arriscando se tornar um Saul II, ou se submeter a vontade de Deus, atitude demonstrada no conflito com Saul na primeira parte do livro.

O livro se desenrola dentro destes dois conflitos e, ao longo da leitura, podemos entender as intenções de cada um dos reis. O grande destaque está no processo de quebrantamento e preparação que Davi passa até assumir o trono, que se inicia no pastoreio de ovelhas, destruindo seu “Saul” interior e se humilhando, visando atingir o nível de maturidade e de caráter requeridos por Deus.

André Anéas

Destaques do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

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Avaliação do Leitor [Estudo do Livro “Perfil de Três Reis”]

Eclesiastes 5.1-7 x Salmo 66: Temor e Adoração

temor
Eclesiastes nos faz um alerta sobre o temor necessário que devemos ter ao se aproximar de Deus (aqui “Casa de Deus”). O texto nos traz alertas referente aos tipos de práticas recomendadas diante de Deus e, entre elas, podemos destacar: ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de “tolos”, não nos precipitar em dizer algo a Deus (devido a grandeza Dele e nossa pequenez), cumprir os votos feitos ao Senhor (o autor ainda diz que melhor é não fazer voto, do que fazer e não cumprir) e em ter cuidado em relação a consentir que a nossa boca nos culpe de algo. Em resumo, este trecho ressalta a necessidade de possuirmos temor diante de Deus.

No Salmo 66, o salmista entre os versículos 1 e 12 coloca diversos motivos que nos levam a reconhecer a grandeza de Deus e a nos colocar em nosso lugar (completamente diferente do de Deus). Todos estes motivos nos levam a ter temor, pois percebemos a grandeza de Deus e nossa pequenez. Entre os motivos, são colocados grandes feitos de Deus, como por exemplo: Seu governo eterno, Aquele que preserva a vida e alma, conversão do mar em terra, etc.

O temor que é gerado através das afirmações sobre Deus em Salmo 66 é semelhante ao de Eclesiastes. Porém, em Eclesiastes, o temor “nasce” da exortação do escritor na maneira como devemos nos comportar perante Deus. Já em no Salmo 66, O temor “nasce” de afirmações que revelam quem Ele é através de Seus feitos.

A partir do versículo 13 do Salmo 66, o salmista começa a descrever as ações que o adorador deve ter perante Deus, chegando a citar um tema igual ao de Eclesiastes 5:1-7: pagamento de votos. A exortação para se adorar a Deus das maneira descritas (holocaustos, com palavras, pagamento de votos, etc.) são fruto da certeza de quem se está adorando, ou seja, quem Ele é. Fica claro que é um adorador temente a Deus que possui suas orações atendidas e a graça do Senhor permanece neste (Salmo 66:19-20).

Devido ao temor, pré-requisito para quem se achega a Deus, ambas passagens nos incentivam a uma adoração consciente, profunda e sincera. A hipocrisia ou culto religioso somente exterior está fora de cogitação. A certeza de quem Ele é, é fundamento para o adorador e temor é necessário.

André Anéas

Círculo Teológico-Filosófico

A existência do Círculo Teológico-Filosófico é algo que devemos estar convictos. Além disso, é fundamental nossa compreensão a respeito deste círculo. Fundamental porque para aqueles que estudam teologia e farão teologia, o não entendimento do círculo, ou ciclo, pelo qual o teólogo vai caminhar, acatando ou não preposições argumentadas, poderá acarretar em uma inocência passível de questionamento por parte dos receptores de sua teologia, sejam eles receptores de uma teologia prática ou “acadêmica”.

O filósofo tem por “vocação” o compromisso com a busca pela verdade. Esta “verdade” não é absoluta, pois sempre está passível de ser questionada, alterada, evoluída ou expandida. Devido ao seu compromisso com a verdade, cabe ao filósofo se abster de toda e qualquer influência sua ou de outrem que contamine os resultado de sua busca. Ao filósofo cabe se manter genérico e abstrato suficiente para que esta verdade se aplique de maneira essencial.

Levando em consideração que a filosofia tem desde seus primórdios o que consideramos “científico”, por levar em consideração métodos para se investigar a verdade (observação, empirismo, raciocínio), entende-se que o filósofo da religião deverá tratar deste tema – religião – com as mesmas premissas que cabem ao filósofo. Entretanto, nos iludiríamos se nos convencêssemos de que nada que o filósofo carrega em sua “bagagem” cultural influencia no resultado por sua busca pela verdade genérica e abstrata suficientemente capaz de suprir as expectativas válidas acerca da religião. Mesmo assim, o filósofo da religião possui sua vocação voltada para seu compromisso com a filosofia, e tudo o que este termo implica.

Paul Tillich critica o chamado “Teólogo Científico”, pois por ser teólogo tem em si – ou deveria ter – o compromisso (vocação?) para com a mensagem cristã. Ou seja, tendo ele um ponto de partida concreto e não sendo nada genérico ou abstrato, a ponto de buscar a verdade independente de suas convicções, ele quebra o que seria fundamental para o filósofo. O autor coloca que a tentativa deste “Teólogo Científico” de sobressair o Filósofo da Religião, porque busca imputar a mensagem cristã com auxílio de seu método, só pode ter dois resultados: 1. Ele é filosofo da religião, pois dilui a mensagem cristã em seu conceito de Religião, tornando o Cristianismo mais um caminho, atitude que, para Tillich, já tornaria seu acesso ao círculo teológico impedido; 2. Ele é – se torna – um Teólogo de fato, e busca atribuir suas verdades de maneira universal, fazendo parte do círculo teológico. Tillich entende que o “Teólogo Científico”, ao assumir a segunda posição deveria deixar de se colocar como científico e se assumir teólogo. Outra observação importante é que Tillich considera que o Teólogo Científico é na verdade um Filósofo da Religião.

Portanto, é possível compreender que o Círculo Teológico-Filosófico é para o Teólogo o momento em que ele passa a abrir diálogo para questões filosóficas – naturalmente científicas, dentro das mais diversas disciplinas – sendo colocado em “cheque”, pois se torna necessário rever e tomar posições sobre diversos assuntos teológicos. Para alguns, este “diálogo” é considerado saudável e muito proveito, muito embora Tillich tem uma posição crítica quanto a estes, pois acabam por ser Filósofos da Religião. Já outros, naturalmente mais ortodoxos, tendem a olhar este “desbravamento” e “idas e vindas” (círculo) do teólogo à filosofia – da religião ou não – com mais cautela, cientes de riscos de comprometer o compromisso inicial do teólogo: a mensagem cristã.

André Anéas / Cláudio / Orfeu

Bibliografia:

TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. 6. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005.