A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso. Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados! [20-4:1]
O fardo de se gloriar em si mesmo, de sempre se justificar, é muito pesado. Nos cansamos de fingir ser quem não somos. É algo que rouba nossa felicidade. Uma hora ou outra este fardo se tornará insuportável. Mas quem crê no poder de Deus para salvar terá alívio! Não precisará mais fingir, pois como alguém desqualificado! terá o consolo de um Deus que ama, um Deus que cura as feridas, que ressuscita os mortos e que fornece gratuitamente a salvação! Um Deus único, invencível, Todo-Poderoso, que nos ama e nos chama de filhos! A este Deus, o Deus do nosso Senhor Jesus, toda glória para sempre!
E este Deus haverá de, da mesma maneira como com o Filho, nos ressuscitar! Por isso, que nos esqueçamos de tudo que fica para traz, e tenhamos coragem para considerar tudo como esterco a fim de receber o prêmio do chamado celestial em Cristo Jesus! Avancemos em nossas vidas servindo ao Senhor com alegria e aos nossos irmãos com humildade, sabendo que como desqualificados! fomos salvos e a nós cabe sermos como Ele, humildes uns com os outros, para que naquele Dia, em que se manifestar o Filho de Deus, desfrutemos do privilégio de sermos chamados filhos de Deus, não em um mundo que privilegia e enaltece os qualificados, mas em um lugar, uma pátria celeste, como cidadãos do céu, um lugar em que o rei é Rei dos reis e Senhor dos senhores, o Cordeiro Santo que foi morto e ressuscitado, aquele que tem o nome que está sobre todo o nome, Jesus, o Filho de Deus, a honra, a glória e o poder para todo o sempre, amém!
Pois, como já disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago, e eles têm orgulho do que é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas. [18-19]
Paulo, muito embora tenha total compreensão do evangelho de Jesus, o qual desafiou e mudou toda sua história de vida, não tem para si orgulho ou vaidade da revelação que recebera de Cristo. Ao contrário, ele chora e se entristece ao ver gente envolta no engano. Ele sabe que estes “inimigos da cruz de Cristo” tem sua condenação garantida e sua postura frente ao erro é firme. Entretanto, Paulo não cai no mesmo erro deles, o de se orgulhar.
Semelhantemente, a Igreja não deve dar ouvidos a nenhum inimigo da cruz de Cristo. Aqueles quem desprezam o motivo maior da nossa justificação gratuita em decorrência de uma auto-justificação não são dignos de credibilidade, pois são inimigos da graça, inimigos de Cristo, inimigos do ato redentor de Deus e possuem ensinos que são uma armadilha para o povo de Deus. Mesmo assim, a Igreja deve ser equilibrada ao ponto de não se orgulhar em si mesma e não cair no mesmo erro dos orgulhosos que não necessitam da graça de Deus.
Devemos olhar para Cristo, que é o maior exemplo de humildade e obediência.
Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma, e, se em algum aspecto, vocês pensam de modo diferente, isso também Deus esclarecerá. Tão somente vivamos de acordo com o que já alcançamos. Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que apresentamos a vocês. [15-17]
Diante de tal realidade que o apóstolo Paulo experimenta em Cristo, ele tem credibilidade para dizer: “sigam meu exemplo e vivam de acordo com este padrão”. Qual padrão? O padrão que está revelado em Cristo, de humildade.
Quão mais fácil seriam as coisas na igreja se todos seguissem este padrão! Se todos aqueles que estão envolvidos no Reino de Deus servissem a Ele com plena convicção que não tem motivos para se gloriarem em seus próprios feitos, em seu “atos de justiça”. Muito pelo contrário, certos de que participam da mesma graça que salva desqualificados! e, unidos Nele, servissem Aquele que é digno!
Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus. [10-14]
Para realmente compreender o que gera esta mudança radical na vida de Paulo, precisamos entender o desejo de Paulo por conhecer a Cristo. Não teoricamente, mas, como Paulo, recebê-lo como “meu Senhor”, conhecendo-O de forma pessoal e íntima. E conhecer a Cristo implica em conhecermos o poder da sua ressurreição e de sua morte e buscarmos ser como Ele, se tornar como Ele.
Conhecer Cristo é conhecer aquele que nos salvou de nossa própria condenação. Estávamos condenados por nossos pecados. Diante do Deus-Santo, devíamos pagar com nossa própria vida por nosso erro, nosso pecado. Nada mais justo, se tratando do Deus-Justo. Por tempos, a nação de Israel recebia o perdão dos seus pecados quando, pela fé, se quebrantavam e um animal inocente tinha seu sangue derramado no altar. Entretanto, conforme nos diz Hebreus 1, nestes últimos dias Deus fala através do Filho. E é Nele, em Cristo, que aquela prática de sacrifício de animais pelo pecado do povo (mediante pela fé) cessa. Pois o sacrifício de Jesus, perfeito, é definitivo por todos os nossos pecados.
No momento em que o Filho inocente, santo, inculpável, com TODO o direito de reclamar sua santidade ao Deus Pai, com TODO o direito de fazer justiça com suas próprias mãos, com TODO o direito de julgar aqueles que o acusavam de tantas mentiras, com TODO direito de demonstrar seu poderio, com TODA justiça a Seu favor, com TODA sua divindade, não se apega a nada disso, masesvazia-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens, humilhando-se e sendo obediente a Deus até a morte, e morte de cruz (Filipenses 2:6-8), o preço do nosso pecado é pago. O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele (Isaías 53:5).
Quando Cristo diz na cruz: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mateus 27:46), todo o preço a ser pago, correspondente a todo o pecado da humanidade, TODO, está sendo pago Nele. Jesus se faz pecado, se faz maldito em nosso lugar. Ele morre a nossa morte, ele sente a dor que nós deveríamos ter sentido. Ele se vê desamparado, separado de Deus, abandonado. O preço do nosso pecado, da morte espiritual – que é a separação de Deus – , é efetuado em Cristo Jesus, porque Ele deliberadamente obedeceu ao Pai e se entregou pela humanidade. Uma humanidade cheia de si, de suas justificativas e de seus argumentos.
Ele não era pecador, mas sofreu como se fosse. Ele não era merecedor, mas sentiu a dor de quem merecia. Ele amava ao Pai, mas vivenciou, mesmo que por um instante de tempo, a separação Deus, destinada aqueles que não amam ao Pai. Foi um ato de crueldade o que aconteceu com Cristo na cruz. Sim, crueldade. Crueldade que deveria ser destinada a nós. Afinal, nós merecíamos e não Ele. O acontecimento é tão único que as trevas que cobrem a terra, os mortos que ressuscitaram e terremotos tem total razão de ser (Mateus 27:45-54).
“Está consumado!” (João 19:30). Com estas palavras o Filho cumpre o que foi lhe posto por Deus Pai. O Cordeiro Santo recebera em si o pagamento pelo pecado.
Mas a história não parou ai. Não… Após a morte de Cristo, no terceiro dia, Jesus é ressuscitado! A ressurreição nos revela que o sacrifício foi aceito por Deus. Como cristãos, temos na ressurreição a certeza de que nosso último inimigo, a morte, fora derrotado pelo poder que há em Jesus! A ressurreição do Senhor é nossa esperança de sermos ressuscitados também, da mesma maneira que Ele foi. Eis aqui as boas novas! Esta geração tem uma saída, tem a chance de receber o perdão de seu pecado e iniquidade.
…
Conhecer a Cristo, o poder da ressurreição e a participação em Seus sofrimentos, e ser como Ele é o desejo de Paulo, pois Paulo sabe valorizar quem Ele é. Paulo tem claramente para si que estar em Cristo é incomparável. Para o apóstolo, nada está em pé de igualdade com o Senhor. Nada! Inclusive ele mesmo. Paulo se desqualifica em sua carne (justiça própria, fama, honra, descendência, influência, status, obras, etc.), pois sabe que comparada a Cristo tudo é esterco.
Para Paulo, seu alvo é Cristo. Tendo sua meta muito bem definida, ele se esquece do que ficou para trás e caminha rumo ao seu alvo, Cristo. Seu prêmio não é deste mundo. Seu prêmio não passa com o tempo e não é destruído. O prêmio pelo qual Paulo avança é o chamado celestial por Deus em Cristo Jesus.
Paulo compreende que tudo o que ele tem em si mesmo, na “carne”, não passa de trapos de imundície. Ele percebe que nem o seu maior esforço seria capaz de salvá-lo. Somente Cristo poderia fazê-lo, pois Ele é o Cordeiro Santo, imaculado, perfeito, sem macha alguma, sem falhas, sem erro, inocente, santo, inculpável. Somente Cristo poderia ser o sacrifício perfeito, capaz de perdoar definitivamente pecados.
Mas o que para mim era lucro passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé. [7-9]
Entretanto, este mesmo Paulo cheio de razões, se coloca no mesmo patamar dos filipenses, que não são judeus, afirmando que eles (Paulo e os filipenses) é que são verdadeira circuncisão, pois não o foram circuncidados em uma ato físico, mas no coração (Romanos 2:29). Eles sim é que adoram a Deus verdadeiramente, em Espírito. Eles, que se gloriam em Jesus Cristo e não confiam na “carne”! Ao contrário daqueles que se gloriam e confiam na “carne”, em sua própria justiça, Paulo e os filipenses confiam e se gloriam em uma Pessoa, Jesus. E é aqui, em Jesus, que Paulo nos ensina como deve ser a vida de um verdadeiro adorador do Deus vivo.
É por causa de Cristo, “por culpa Dele”, que Paulo sofre uma reviravolta em sua vida. Até encontrar o Senhor na estrada para Damasco (Atos 9) Paulo depositava sua confiança na “carne”. Entretanto, após esta revelação da parte do Senhor, Paulo sofre uma grande mudança de curso em sua vida. É a partir desta experiência real com o Senhor, que o apóstolo passa a colocar como prioridade em sua vida o conhecimento de Jesus Cristo.
Sabemos que o autor de Filipenses está preso – uma situação humilhante – , passou necessidades, passou por naufrágios, fora perseguido, açoitado e que sua reputação como judeu fora manchada. Com alguém do gabarito de Paulo, é nítido que a perda foi grande em termos de reputação. Mas, o mais surpreendente é que tudo isto – reputação, fama e status – que qualquer homem teria para si como lucro, vantagem e ganho, ele considera como perda diante da causa de Cristo. Aliás, ele considera tudo como perda diante de Cristo. Aqui, trata-se de uma questão contábil. Para Paulo, a partir do momento da revelação que tem de Jesus Cristo, tudo o que ele possui antes de Cristo é considerado como prejuízo, perda, tempo perdido.
A suprema grandeza do conhecimento de Cristo é lucro, vantagem. Quando comparado com qualquer outra coisa, para Paulo, todo o “resto” era considerado como perda (o contrário de lucro). Mais ainda, ele chega a afirmar que todas estas coisas são como esterco quando comparadas a estar em Cristo. Lixo, inúteis. E estar em Cristo significa não ter sua própria justiça proveniente da Lei, mas a que procede da fé em Cristo, a verdadeira justiça vinda de Deus baseada na fé. Em Filipenses 1:21 ele afirma: o viver é Cristo e o morrer é ganho (lucro). Ele diz isso pois tem tamanha esperança de estar com Cristo de maneira plena que preferiria morrer, pois seria muito melhor (Filipenses 1:23).
…
Que mudança radical! O que Cristo fez afinal de tão significativo para que o apóstolo Paulo considerasse tudo como esterco? O que seria a suprema grandeza do conhecimento de Cristo? O que faz alguém como Paulo desconsiderar seu passado exemplar como judeu, sua fama e seu status e colocar Cristo acima de tudo?
Quantos de nós somos tão cheios de si, cheios da nossa tradição, cheios da nossa reputação. Muitos valorizam aquilo que conquistaram com o próprio esforço, se inflam de orgulho e lutam a vida inteira para sustentar seus castelos de vaidade e de orgulho. É fácil para o homem encher sua boca para se justificar, para se defender e argumentar em seu favor. É fácil dizer que estamos certos e que esta ou aquela situação é uma injustiça para nós, afinal de contas, somos tão bons, tão honestos e tão honrosos. Quem pensam que são para nos deixar de fora da “festa”?
Esta é a realidade para muitos hoje em dia, talvez para alguns de nós. Encontramos motivos de sobra para nos gloriarmos em nós mesmos, nas obras das nossas mãos, na nossa justiça, na nossa capacidade.
Porém, a realidade é outra. Paulo viu em Cristo algo que o tornou um desqualificado, um alguém que não tinha condição alguma de se gloriar em si, em sua reputação, fama, justiça. O conhecimento de Cristo o fez reinterpretar sua própria vida, a ponto de considerar todo seu direito de confiar na carne esterco, lixo, inutilidade. Imagino que Paulo compreendera de maneira muito mais clara e prática Isaías 64:6…
Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniqüidades nos levam para longe. – Isaías 64:6
O que seria capaz de nos mudar e de nos transformar se não a suprema grandeza do conhecimento de Cristo?
Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível. [4b-6]
O apóstolo tinha muitos motivos para confiar em sua “carne”. Circuncidado conforme orienta a Lei, pertencente a tribo de Benjamim (descendente de Saul), verdadeiro hebreu (filho de hebreus), fariseu (estudioso e praticante da Lei), perseguidor da igreja (combatia a ameaça ao judaísmo) e irrepreensível quanto a justiça da Lei (reconhecido por sua conduta)! Que currículo! Acrescentaria ainda que fora ensinado pelos maiores de sua época, como Gamaliel (Atos 22:3). Paulo não era um qualquer que tentou algumas coisas na vida e como tudo deu errado foi “tentar a vida” como pregador do evangelho. Paulo tinha motivos de sobra para se orgulhar e se sentir “de Deus” mais do que qualquer outro naqueles dias. Ele era diferenciado e acima da média.
Por isso, ele afirma que poderia confiar na “carne”. Confiar, se vangloriar, se orgulhar. Tinha razões para isto. Tinha consciência de que ele estava acima de outros no que tange a tradição judaica. Destaco aqui sua irrepreensibilidade quanto a Lei. Paulo era impecável no cumprimento da Lei, ao menos em aspectos exteriores. Ele tinha motivos para confiar em sua própria justiça e com certeza tinha boa reputação como judeu nos círculos religiosos. Quando ele critica estes judaizantes, ele o faz com propriedade de quem já valorizou aquilo que eles valorizam, aspectos exteriores. Também, como perseguidor da igreja, ele era implacável. Lutava e fazia o que era preciso para combater a “seita” recém surgida dos seguidores de Jesus. Mais um motivo para ter sua reputação elevada, pois não se tratava apenas de um discurso, mas de prática!
Finalmente, meus irmãos, alegrem-se no Senhor! Escrever de novo as mesmas coisas não é cansativo para mim e é uma segurança para vocês. Cuidado com os “cães”, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão! Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne, embora eu mesmo tivesse razões para ter tal confiança… [1-4a]
A principal preocupação do apóstolo Paulo é de que os filipenses fossem persuadidos a confiarem na “carne”. Ele tinha recebido notícias de que um grupo de judaizantes seguidores de Jesus queriam influenciar os gentios a seguirem práticas judaicas. Ao tratar deste assunto em outras cartas é comum a referencia à expressão “obras da Lei”. Não que Paulo desprezasse a Lei de Deus, afinal de contas ele chega a afirmar em Romanos que a Lei é boa. O grande problema do apóstolo no que se refere às “obras da Lei” são os elementos de fronteira, que eram evidências claras para comunidade judaica de quem era ou não de Deus. Estes elementos são citados muitas vezes: as regras alimentares, a guarda do sábado e, como tratado aqui neste texto de Filipenses, a circuncisão. Paulo não tinha problema algum que judeus continuassem a seguir estes preceitos, mesmo após se tornarem seguidores de Jesus. Isso não significa que eles criam que eram salvos pelas obras, pois não criam. Mas, existiam aspectos comumente aceitos para identificar um bom judeu do “nem tão bom assim”, semelhantemente ao que a igreja faz hoje para identificar externamente o crente bom do ruim. O grande problema para o apóstolo dos gentios era que estes judaizantes em Filipos queriam influenciar os gentios a seguirem estas práticas, tentando submete-los ao jugo da Lei (tradição), incluindo obstáculo para pura graça salvadora de Deus.
O que temos aqui nada mais é do que a “tradição”, o “costume” e a “religiosidade” servindo de fator decisivo para o destino eterno das pessoas. Existe uma transferência de confiança. Ao invés de se confiar em Deus, pela fé, no perdão de pecados, se confia na “carne”. Ou seja, naquele tipo de elemento externo, claro e de senso comum, que por sua vez depende do próprio adorador e não de Deus.
Paulo “pega pesado” com estes judaizantes. Os chama de “cães”. Um adjetivo muito pejorativo para época. Se percebe uma certa ironia por parte do apóstolo, pois “cães” era o nome dado pelos judeus aos gentios. Paulo usa a mesma expressão para se referenciar aos judeus. E mais do que isso, diz que eles são da “falsa circuncisão”. Literalmente ele está dizendo que a circuncisão deles não passa de uma mutilação feita no próprio corpo, sem valor algum! Imagina para um judeu o que representa estas palavras? Paulo sabia exatamente o que isto representava, afinal de contas, Paulo era judeu. Em Gálatas 5:12 Paulo chega a escrever que por ele este judeus deviam literalmente cortar os órgãos genitais! A circuncisão que não representava uma verdadeira mudança no coração, para Paulo, era algo inútil e não passava de um ritual sem sentido algum. Quando ele declara que “… embora eu mesmo tivesse razões para ter tal confiança” fica claro que Paulo compreendia exatamente do que estava falando.
A preocupação com a segurança da igreja em Filipos se dava em razão destes “cães” a quem Paulo se refere. Paulo tem consciência de que os filipenses estavam vulneráveis a falsos mestre com seus falsos ensinos. Mas não se tratava de um ensino claramente herético, em que facilmente se identificava o erro. Se tratava de seguidores de Cristo, que estavam influenciando o rebanho para um caminho equivocado.