É nesta circunstância que uma mulher, pecadora, fica sabendo que Jesus está na casa do fariseu. Naquele época, um jantar era um evento no qual as pessoas tinham acesso ao recinto onde a comida era servida. Não é de se estranhar que uma mulher não convidada teve acesso ao local em que Jesus estava. Através do texto, entendemos que Jesus estava reclinado à mesa. As mesas eram baixas e as pessoas se reclinavam a elas, deixando os pés para fora. Por esta razão é que a mulher consegue se colocar atrás de Jesus a seus pés.
O ato da mulher para com Jesus nos revela uma das cenas mais comoventes e de maior expressão de amor relatada nos evangelhos. Ela molha os pés de Jesus com suas muitas lágrimas, enxuga os pés do Mestre com seus cabelos, beija-os muitas vezes e por fim os unge com perfume contido em um frasco de alabastro.
Precisamos observar alguns detalhes desta história. Em primeiro lugar, se trata de uma mulher pecadora que se expõe em um contexto em que o homem possuía maior relevância. Em segundo, pela própria exposição que a mulher se coloca. Sem se importar com a opinião alheia, com os olhares “atravessados”, com o ar de acusação e repúdio que a cena deve ter causado. Em terceiro, pelos beijos dados nos pés de Jesus. E em quarto, por ela investir um frasco de alabastro com perfume para ungir os pés de Jesus. Se tratava de um artefato muito caro.
É preciso falar acerca da situação que a mulher se encontrava. Chorando de maneira compulsiva, pois as lágrimas deram conta de molhar os pés do Mestre. Este detalhe nos traz a tona o desespero que a mulher se encontrava. Pelas características que o texto revela, esta mulher, muito provavelmente, era uma prostituta (daí o termo “pecadora” empregado a ela). Isto nos mostra que ela estava no fundo do poço. Ao descobrir que Jesus estava ali, é como se ela soubesse que Ele era a resposta para suas ansiedades. Ele era a esperança que ela não possuia. Jesus representava mudança e recomeço. Jesus representava o sentido à vida para aqueles que não tinham razão alguma de ser. Jesus podia “dar um jeito” nos pecados cometidos por ela, na dívida impagável e alta. O problema não era simplesmente a marginalização que a mulher se encontrava, mas o peso do pecado sobre os ombros dela. Ela sabia que era pecadora, sabia que estava errada, mas ela não tinha saída no sistema religioso da época, o qual não fornecia uma alternativa.
Podemos dizer que o ato de adoração à Jesus, oferecido pela mulher, expressa uma entrega total de uma pessoa que não possui amor próprio, mas reconhece em outro, no caso Jesus, um digno de receber TUDO o que ainda lhe resta. Ela não guardou para si uma porção de amor, ao contrário, ofereceu tudo o que possui para Jesus, pois encontrou Nele alguém único e especial.
Jesus não havia morrido ainda por Ela na cruz do calvário, mas mesmo assim Ele transparecia, tanto para mulher como para outros, alguém que representava a graça e misericórdia de Deus. E mesmo sem o ato de amor de Jesus para humanidade ser consumado, ela se humilha perante o Mestre. E, prostrada, faz um ato de adoração genuíno, de alguém com amor sincero. Ela se transforma em NADA, mesmo não sendo muito, por amor do Senhor. Ela entende que Jesus é a boa notícia, alias, MUITO boa notícia.
André Anéas
[acompanhe esta série de posts sobre Por que se entregar a Deus?]
1/8 – Introdução [Por que se entregar a Deus?]
2/8 – “Entrega” [Por que se entregar a Deus?]
3/8 – Um convite inesperado? (36) [Por que se entregar a Deus?]
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