Simão, o fariseu, diz para si mesmo que Jesus não era quem ele estava pensando, pois Jesus não discerniu que a mulher era uma pecadora – prostituta. Aqui o fariseu revela a mente do pensamento religioso da época (e de hoje?). O pecador não tem escape. Não existe caminho de misericórdia e de graça. A desconfiança do fariseu é tamanha, que mesmo ele seguindo a Jesus, passa a desconfiar de que Jesus não seria “o” Profeta, “o” Messias.
Para Simão e os religiosos da época, cumprir rituais, fornecer um culto a Deus sem vida interior verdadeira era suficiente. Achavam que agradavam a Deus se entregando exteriormente. Arrogância e orgulho imperavam no coração de muitos fariseus, não sendo humildes de coração e nem reconhecendo o quanto necessitavam do Senhor. Tinham em primeiro lugar a preocupação com suas posições. Talvez seja daí o fato de Jesus criticá-lo por não recepciona-lo como convinha na época, pois estava com um “pé atrás” com Jesus. Ao ver uma mulher, que não era da seita farisaica e pecadora, se prostrar diante de Jesus, o fariseu ficou com “dois pés atrás”…
É nesta circunstância que uma mulher, pecadora, fica sabendo que Jesus está na casa do fariseu. Naquele época, um jantar era um evento no qual as pessoas tinham acesso ao recinto onde a comida era servida. Não é de se estranhar que uma mulher não convidada teve acesso ao local em que Jesus estava. Através do texto, entendemos que Jesus estava reclinado à mesa. As mesas eram baixas e as pessoas se reclinavam a elas, deixando os pés para fora. Por esta razão é que a mulher consegue se colocar atrás de Jesus a seus pés.
O ato da mulher para com Jesus nos revela uma das cenas mais comoventes e de maior expressão de amor relatada nos evangelhos. Ela molha os pés de Jesus com suas muitas lágrimas, enxuga os pés do Mestre com seus cabelos, beija-os muitas vezes e por fim os unge com perfume contido em um frasco de alabastro.
Precisamos observar alguns detalhes desta história. Em primeiro lugar, se trata de uma mulher pecadora que se expõe em um contexto em que o homem possuía maior relevância. Em segundo, pela própria exposição que a mulher se coloca. Sem se importar com a opinião alheia, com os olhares “atravessados”, com o ar de acusação e repúdio que a cena deve ter causado. Em terceiro, pelos beijos dados nos pés de Jesus. E em quarto, por ela investir um frasco de alabastro com perfume para ungir os pés de Jesus. Se tratava de um artefato muito caro.
É preciso falar acerca da situação que a mulher se encontrava. Chorando de maneira compulsiva, pois as lágrimas deram conta de molhar os pés do Mestre. Este detalhe nos traz a tona o desespero que a mulher se encontrava. Pelas características que o texto revela, esta mulher, muito provavelmente, era uma prostituta (daí o termo “pecadora” empregado a ela). Isto nos mostra que ela estava no fundo do poço. Ao descobrir que Jesus estava ali, é como se ela soubesse que Ele era a resposta para suas ansiedades. Ele era a esperança que ela não possuia. Jesus representava mudança e recomeço. Jesus representava o sentido à vida para aqueles que não tinham razão alguma de ser. Jesus podia “dar um jeito” nos pecados cometidos por ela, na dívida impagável e alta. O problema não era simplesmente a marginalização que a mulher se encontrava, mas o peso do pecado sobre os ombros dela. Ela sabia que era pecadora, sabia que estava errada, mas ela não tinha saída no sistema religioso da época, o qual não fornecia uma alternativa.
Podemos dizer que o ato de adoração à Jesus, oferecido pela mulher, expressa uma entrega total de uma pessoa que não possui amor próprio, mas reconhece em outro, no caso Jesus, um digno de receber TUDO o que ainda lhe resta. Ela não guardou para si uma porção de amor, ao contrário, ofereceu tudo o que possui para Jesus, pois encontrou Nele alguém único e especial.
Jesus não havia morrido ainda por Ela na cruz do calvário, mas mesmo assim Ele transparecia, tanto para mulher como para outros, alguém que representava a graça e misericórdia de Deus. E mesmo sem o ato de amor de Jesus para humanidade ser consumado, ela se humilha perante o Mestre. E, prostrada, faz um ato de adoração genuíno, de alguém com amor sincero. Ela se transforma em NADA, mesmo não sendo muito, por amor do Senhor. Ela entende que Jesus é a boa notícia, alias, MUITO boa notícia.
Gostaria de expor a história relatada por Lucas no capítulo 7:36-50, em que uma pecadora demonstra de maneira singular seu amor pelo Mestre. Tenho certeza que a partir deste relato, a Palavra dará luz sobre as seguintes perguntas: “Por que devemos nos entregar a Deus?”, “O que significa se entregar a Deus?” e “Quais implicações práticas eu tenho me entregando a Deus?”.
Algo que precisa ser esclarecido acerca do Mestre: Ele não era festeiro e nem beberrão. Digo isto, pois muitas vezes ouvimos pessoas dizerem aquilo que os fariseus e mestres da Lei diziam sobre o nosso Mestre com o objetivo de denegri-lo. Que tipo de consideração merecem as palavras de pessoas que constantemente armaram ciladas para Jesus? Que crédito tem alguém que se utiliza de mentiras e artimanhas para tentar denegrir a imagem de um inocente? Observe os exemplos: João 8:6 (mulher adultera), Lucas 7:34 (“beberrão e comilão”), Lucas 23:2 (mentiras dos judeus no julgamento de Pilatos), Mateus 27:20 e Marcos 15:11 (líderes convencem / incitam a multidão a pedir por Barrabas), e por ai vai.
Abro um parênteses ao observar as inúmeras tentativas da liderança judaica de “derrubar” Jesus:
Cuidado com lobos em peles de cordeiro. A liderança judaica, os fariseus e “peritos na Lei” eram, em muitas situações, lobos em peles de ovelhas. Ele tentaram provocar Jesus a uma falha com armadilhas, argumentos, convencê-lo a aceitar aquilo que eles achavam certo. Hoje em dia existem muitos lobos nas lideranças da igreja. Cuidado! Muitos deles se portam como ovelhas, mas no momento em que forem confrontados com a VERDADE, com seus erros, pecados, falta de condições, de preparo, domínio próprio, de discernimento e com o próprio chamado, certamente vão trazer a tona suas verdadeiras identidades: lobos políticos, maquiavélicos, que fazem armadilhas e artimanhas, na maioria das vezes para nos confundirem sobre a VERDADE. Corromper a VERDADE é pior do que roubar dinheiro. Que tenhamos a mesma comunhão com o Pai, que teve Cristo, para discernir quem são este peritos em destruição psicológica e nos mantermos fiéis à Ele, sem nos dobrar diante destes cães.
O fato de Jesus ir até a casa de um Fariseu jantar e permitir a aproximação de uma pecadora não revela um Cristo que “topa tudo” para anunciar as verdades do Reino para os pecadores. Lucas coloca o texto referente a mente maquiavélica dos “fariseus e peritos na lei”, dizendo que Jesus era “comilão e beberrão”, um pouco antes do relato do convite do fariseu a Jesus. Por que Lucas coloca os textos próximos um ao outro? A resposta desta questão pode nos evidenciar a intenção de Lucas de nos esclarecer quem era Jesus de fato, desmistificando esta ideia errônea que muitos tem hoje, de que Jesus era um cara “bacana” e “legal”, sem preconceitos, com mente aberta, “descolado” e liberal. A imagem que muitos tem de Jesus é formada por pensamentos farisaicos, da ala que queria incriminar Jesus por meio de armadilhas e mentiras. Isto fica ainda mais evidente quando observamos o versículo 40, em que o fariseu o chama de “Mestre”, expressão comumente usada para se dirigir a rabinos. Jesus não estava na casa de alguém que não tivesse interesse em ouvir aquilo que Jesus estava anunciando. Jesus não estava em um “passa tempo”, “curtindo” um jantar na casa de amigos e disposto a ser conivente com o pecado, para “conviver e caminhar junto deles”. Muito pelo contrário.
O interesse de Jesus era um: anunciar as boas notícias do evangelho aos desesperados, oprimidos, cativos, pecadores e doentes. Ele veio para os doentes e não para sãos. Seu “público alvo” era simplesmente gente sem esperança, pessoas que precisavam ser salvas, vidas que precisavam de uma saída, de um escape. Não há espaço no Reino de Deus para soberbos, arrogantes, gente autossuficiente e que não precisa de Deus. Conforme a Palavra diz em Tiago 4:6: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Por isso Jesus conversava com pecadores e por isso a multidão tinha acesso a Ele, porque Ele tinha compaixão do povo. De maneira nenhuma Jesus se contaminou com o pecado, foi conivente com o pecado, participou do pecado. Nunca!
O Senhor é bom! Tão bom que nos presenteou com uma linda história sobre uma mulher que teve um gesto de amor singular na revelação bíblica. E sobre esta história tive a alegria de pregar na Igreja Batista Parque das Nações em Santo André, no dia 11/05/2013. Com o título de “Por que se entregar a Deus?”, esta pregação irá nos desafiar sobre o real significado de entrega a Deus.
Agradeço a todos os irmãos pelo convite e oro para que o Senhor continue os abençoando!