PORQUE DEVEMOS PENSAR CORRETAMENTE SOBRE DEUS – A. W. Tozer

Trecho do livro “O Conhecimento do Santo” , de A. W. Tozer. (original: The Knowledge of the Holy)

Tradução do Professor Landon Jones

O que vem a nossa mente quando pensamos sobre Deus é a coisa mais importante sobre nós.

A história da raça humana provavelmente nos mostrará que nenhum povo tem se elevado acima da sua religião, e a história espiritual do homem certamente demonstrará que nenhuma religião é maior do que sua ideia sobre Deus. Adoração é pura ou degradante e depende dos pensamentos altos ou baixos do próprio adorador.

Por esta razão a pergunta mais importante para a Igreja é sempre a do próprio Deus, e o fato mais portentoso do homem não é o que ele pode dizer ou fazer em determinado momento, mas a concepção de Deus que tem no fundo do seu coração. A nossa tendência, pela lei secreta da alma, é nos deslocar na direção da nossa imagem mental de Deus. Isto não é verdade somente do cristão individual, mas da companhia de cristãos que compõe a Igreja. A ideia mais esclarecedora da Igreja é sempre a sua ideia de Deus, assim como a sua mensagem mais significante é o que ela diz ou deixa de dizer sobre Ele, pois seu silêncio é muitas vezes mais eloquente das suas palavras. Ela nunca pode escapar a sua auto-revelação do seu testemunho sobre Deus.

Se fosse possível extrair de um homem uma reposta completa à pergunta “O que vem a sua mente quando você pensa sobre Deus?”, talvez pudéssemos prever com certeza o futuro espiritual daquele homem. Se soubéssemos precisamente o que os nossos líderes religiosos mais influentes pensam sobre Deus hoje, talvez pudéssemos prever com alguma precisão onde a Igreja estaria amanhã.

Sem dúvida, o pensamento mais poderoso que a mente pode acolher é o pensamento sobre Deus, e a palavra mais importante em qualquer idioma é Deus. Pensamentos e voz são os dons de Deus às criaturas feitas a sua imagem; são intimamente associados com Ele e impossível sem Ele. É muito importante que a primeira palavra foi a Palavra: “E a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” Podemos falar porque Deus falou. Nele palavra e ideia são inseparáveis.

É de suma importância que a nossa ideia de Deus corresponda o mais próximo possível ao ser verdadeiro de Deus. Em comparação aos nossos pensamentos, as nossas declarações doutrinárias são de pouca importância. A nossa ideia real de Deus pode ser escondida debaixo do refugo de noções religiosas convencionais e pode exigir uma busca inteligente e vigorosa antes de ser desenterrada e exposta como realmente é. Somente depois do processo de auto-investigação dolorosa será possível descobrir o que realmente pensamos sobre Deus.

A concepção correta sobre Deus é básica não somente para teologia sistemática, mas para a prática da vida cristã, também. É para culto o que o alicerce é ao templo; se existir uma falha ou se estiver fora do prumo, ou mais cedo ou mais tarde a estrutura toda pode cair. Eu acredito que não existe erro doutrinário ou erro na prática de ética cristã que não tem sua origem no pensamento imperfeito ou indigno sobre Deus.

É a minha opinião que a atual concepção cristã de Deus nestes anos no meio do século vinte é tão degradante que chega ao ponto de ser completamente indigno do Deus Altíssimo e, para crentes professos constitui nada menos que uma calamidade moral.

Todos os problemas no céu e na terra, se fôssemos encontrá-los juntos e ao mesmo tempo, não poderiam ser comparados ao problema esmagador de Deus: Que Ele existe; como Ele é; e o que nós como seres morais devemos fazer a respeito dEle.

O homem que chega à crença correta sobre Deus é aliviado de dez mil problemas temporais, pois ele vê imediatamente que esses têm a ver com questões que, ao máximo, não podem o preocupar por muito tempo; embora os muitos fardos temporais sejam tirados dele, o fardo da eternidade ainda o esmaga com um peso maior de todas as angustias do mundo amontoadas sobre ele. Esse fardo poderoso é a sua obrigação para com Deus. Inclui uma obrigação imediata e vitalícia de amar a Deus de todos os poderes da mente e alma, de obedecê-lO perfeitamente, e adorá-lO dignamente. Quando a consciência labutada do homem diz para ele que não fez nada destas coisas, mas desde a infância é culpado de revolta feia contra a Majestade nos céus, a pressão interior da autoacusação pode ser pesado demais para ele suportar.

O evangelho pode tirar da mente esse fardo destruidor, substituir as cinzas pela beleza, e o espírito de opressão pelas vestes de louvor. A não ser que o peso deste fardo seja reconhecido, o evangelho não fará sentido para o homem; e a não ser que ele VEJA a visão de Deus alto e exaltado, não haverá pesar ou fardo [grifo meu]. Ideias baixas de Deus destroem o evangelho para todos que as têm.

De todos os pecados para os quais o coração humano se inclina, não existe pecado mais grave que idolatria, porque idolatria é, no fundo, a difamação do seu caráter. O coração idolátrico presume que Deus não é como Ele realmente é – que já é um pecado monstruoso – e substitui o Deus verdadeiro por um feito a sua própria imagem. É sempre isso. 

Deus se conformará à imagem daquele que o criou e será falso ou puro, cruel ou bondoso, de acordo com a condição moral da mente de onde emerge.

Um deus criado nas sombras de um coração decaído será naturalmente uma imagem falsa do Deus verdadeiro.

“Tu pensaste,” disse o Senhor ao ímpio no salmo, “que Eu fui totalmente como tu.” Certamente isso deverá ser um insulto sério ao Deus Altíssimo diante do qual os querubim e serafim clamam continuamente “Santo, santo, santo, Senhor Deus Todo-Poderoso.”

Que nós sejamos cientes para não aceitarmos a noção errada de que a idolatria consiste somente em ajoelhar-se diante de objetos visíveis de adoração, e de povos civilizados são isentos disso. A essência de idolatria é nutrir pensamentos sobre Deus que não são dignos dEle. Começa na mente e pode ser presente onde não houve um ato manifesto de adoração.

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