A experiência do silêncio de Deus

[Meditações no Salmo 10]

A espiritualidade cristã se torna uma experiência ingênua quando compreendida dentro de uma perspectiva triunfalista. Um imaginário expresso em forma de dizeres “vitoriosos”, na ausência de qualquer tipo de dúvida e na compreensão de que Deus sempre estará pronto para, imediatamente, agir em favor das causas reivindicadas pelos seus, está distante da experiência que o salmista relata. A experiência da fé está inserida, em diversos momentos, na experiência do silêncio de Deus. O Eterno não fica falando a todo instante ao fiel e tão pouco o fiel ora como se tivesse a percepção de que Deus sempre o está ouvindo. Existem momentos em que orar é se deparar com a ausênciado sagrado. Orar pode ser uma experiência de se sentir evitado por Deus. Assim, oração, diferente de uma expressão romântica da fé, é o instante em que quem ora indaga Deus, pergunta por Ele e se sente só diante das injustiças do mundo. Oração é também experimentar a não-presença do SENHOR. Parece que, neste sentido, a construção da espiritualidade do cristão é cheia de presenças e ausências, percepções e não-percepções, revelações e ocultamentos de Deus. Deus é Deus e é legítimo, devido a sua essência misteriosa, tais manifestações de ocultamento. Diante dessa realidade, o que cabe aquele que ora? Em primeiro lugar há um convite para sentirindignação em um mundo perverso, cheio de órfãos, pobres e desafortunados. Em outras palavras, a oração do homem irrompe o silêncio de Deus diante do mal no mundo. Em certo sentido, a voz do homem manifesta um falar divino, tornando o homem a voz ausente de Deus no mundo. A ausência de Deus torna-se local da presença do homemcomo quem sente o que Deus sente. Em segundo lugar há espaço para questionamento. A oração não é “politicamente correta”. É um se perguntar pela manifestação, pela presença e ação de Deus na história, pois há o entendimento de que Deus podeagir. Por fim, a entrada triunfal de Deus diante de uma solução definitiva é posta em lugar escatológico, no local da esperança. Aqui, o coração de quem ora é aliviado devido a certeza de que na ausência intermitente de Deus há uma expectativa de que um dia lágrimas serão cessadas, o pobre não existirá e que o desamparado terá um lar. A revolta do salmista resulta, portanto, em indignação diante do mal, questionamento sobre a ação de Deus no mundo e em um coração esperançoso do Deus que toma partido do oprimido.

André Anéas

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A experiência da libertação

[Meditações no Salmo 9]

O mundo é injusto. A injustiça se manifesta de forma cristalina. Uma minoria detém os recursos financeiros do globo. A maioria vive a vida com o que sobra. Muitos sequer vivem, tão somente sobrevivem. A fome ainda assola a humanidade. Falta água para irmãos e irmãs! Coisas simples do cotidiano – ambiente limpo, com saneamento básico e livre de contaminação – é um luxo. A opressão ao pobre é real. A humanidade sofre e é oprimida por gente desumana, gananciosa e perversa. Em diversos momentos gememos, ficamos abatidos e aprisionados em um sentimento de impotência diante da maldade que nos aflige. Há esperança? A experiência da libertação desse mal real que abala o físico e o emocional é possível no Eterno! O salmista grita de gratidão, dá graças a Deus e canta. Por quê? Porque Deus age na história das mazelas humanas. Deus toma partido da causa do pobre. Deus se manifesta colocando a casa da humanidade em ordem. Deus vem com livramento para o que clama e suplica por ajuda. O Deus do salmista toma partido da causa do sofredor e se faz presente para todo aquele que o busca. Há esperança. Deus é justo juiz e nenhuma maldade passa despercebida. Quando Ele se revela ao pequenino – o oprimido –, que está em prantos, faz questão de colocar a humanidade opressora em seu devido lugar. Deus não foge da briga. Para quem se coloca como necessitado e carente, triste e abatido, fracassado e derrotado, o Eterno se mostra como uma torre forte no dia da angústia, como uma barreira contra as tempestades da existência. Nessa torre cabe todo o que busca proteção, auxílio, renovo, restauração, sustento e amor. Na torre de Deus sempre há espaço para o que sofre. Quem está nela pode cantar de alegria, pois tem certeza de que Deus faz justiça e de que Ele não esquece dos desabrigados. Como é bom ser alvo da proteção e da libertação de Deus! Que desgraça é ser alvo da justiça e da mão que pesa contra o que aprisiona a humanidade. Louvemos, pois, o SENHOR de todo o coração, pois Ele é libertador e provedor de esperança no mundo caído. O Altíssimo sempre lembra do prisioneiro injustiçado e tem prazer em romper as correntes que o aprisionam!

André Anéas

A experiência da prosperidade

Graça e paz!

Compartilho a mensagem que preguei no último domingo na IBQ. Falei sobre a “experiência da prosperidade” a partir do salmo primeiro. O que é prosperidade? O que é felicidade? Como desfrutar da alegria da prosperidade durante nossa vida? Essas pergunta estão em meu horizonte de reflexão neste sermão.

Oro para que sua vida cristã seja próspera e feliz. Penso ser essa a intenção de Deus para todos nós: que nossa vida seja como árvore replantada no Éden. Assim seja!

André Anéas

A experiência da contemplação

[Meditações no Salmo 8]

Quando refletimos seriamente acerca da nossa existência e nos deparamos com os nossos limites, nossa finitude e nossa angústia diante da liberdade… Quando temos diante de nós gigantes cujos nomes são Incompetência e Pequenez… Quando nos damos conta de que nosso coração, juízo e discernimento nos enganam e nos levam para caminhos tolos… Quando tornam-se notórias nossas palavras mal-ditas, os julgamentos injustos e as decisões mal tomadas… Quando nos colocamos em nosso lugar, pavimenta-se diante de nós a oportunidade de contemplar o Eterno. O salmista percebe Deus na vida. Nas expressões inocentes nos lábios dos bebês, nas pinturas criativas e pigmentações ainda não conhecidas do imenso céu, na lua em seus detalhes e com todas as suas fases e nas constelações incontáveis que, devido a sua imensidão, nos tiram o fôlego, há canções que exaltam o SENHOR. O nome dEle ecoa, se faz presente, se revela e se mostra no que é Belo. A Beleza canta ao SENHOR. Na experiência de contemplação o salmista está sensível para perceber a majestade de Deus. Porém, o que o espanta vai além daquilo que se vê e está relacionado com ele mesmo – o humano. Nós somos alvo da preocupação e da importância do Todo-Poderoso! O Criador nos fez, nos deu honrarias e privilégios, nos amou. E, ainda mais, nos tornou seus jardineiros da criação. Pastoreamos suas ovelhas, nadamos em seus oceanos, ouvimos os seus pássaros cantarem, apreciamos o desconhecido de suas criações nas profundezas dos oceanos. Nós, colaboradores do grande Eu Sou? Nós, que somos meros humanos? As Sagradas Escrituras atestam que sim. O que resta para nós diante desse fato escriturístico? O salmista testemunha a experiência da contemplação. Cabe aqui pouca elaboração teórica. É o momento de ficarmos pasmos, admirados e encantados com um Deus tão poderoso, grandioso e eterno e, ao mesmo tempo, próximo do humano, chegando a nos convidar à cuidar do jardim da criação e a contemplar cada instante da vida como um momento santo. Atenção(!), o mundo está repleto da beleza do Santo, Santo, Santo. E, no ápice da beleza dos atos criativos de Deus, nós somos o principal objeto de seu amor.

André Anéas