teologia
Entrevista Labô | 13/04/2020
Entrevista que concedi ao Laboratório de política, comportamento e mídia da PUC-SP e Fundação SP. Nesse laboratório tenho a alegria de ser coordenador do grupo de pesquisa Teologia Cristão e Religião Contemporânea, junto do amigo Lucas Merlo.
Por que estudar teologia?

Graça e paz!
Compartilho minha tentativa de responder a pergunta “por que estudar teologia?” Minha fala contém 7 motivos que penso justificar o estudo teológico como algo importante e imprescindível para a igreja local. Espero que contribua com sua reflexão e que torne evidente e clara a relevância do labor teológico.
André Anéas
A arte teológica
O estudo da Teologia certamente parecerá pouco útil àqueles que desconhecem do que se trata o labor teológico, especialmente no secularizado séc. XXI. Até mesmo cristãos podem desconhecer a profundidade crítico-reflexiva que a Teologia proporciona. Sugerimos um dos culpados por esta triste ignorância: as “Teologias Reprodutivas”. As “Teologias Reprodutivas” são produções teológicas que nada acrescentam, inovam ou atendem as demandas deste tempo. Tão somente reproduzem de forma diferente as mesmas ideias de séculos passados, cuja relação contextual com o mundo contemporâneo é mínima. É exatamente por isso, a ausência de diálogo com o tempo presente, que as pessoas acabam por desprestigiar a Teologia em si e, consequentemente, todos os seus benefícios. Este pequeno texto pretende evidenciar que a Teologia tem profunda relação com as dimensões sócio-políticas do presente. Mais que isso, que a o labor teológico é algo artístico.
Em defesa de uma teologia pertinente ao leitor contemporâneo, o primeiro elemento teológico indispensável é a revelação bíblica. O texto sagrado narra a histórias que nos revelam a relação Deus-homem de homens e mulheres do passado. Não se trata de pessoas estritamente religiosas e com dedicação integral à instituições de cunho religioso. São pessoas comuns. Especialmente o Novo Testamento testemunhado Deus-homem – Jesus Cristo – que, para além de um discurso religioso, sente a humanidade, tendo compaixão e se doando por gente renegada socialmente, principalmente pela classe religiosa instituída. O pobre, o oprimido, o solitário, o perdido, entre outros “quase nadas”, são encontrados por Deus e recebem boas notícias do Sagrado.
Quando a Teologia se propõe a estudar as Sagradas Escrituras, mais do que a análise técnico-exegética dos textos, ela se preocupa em analisar as narrativas bíblicas. Para a Teologia o texto não é um fim em si mesmo. O labor teológico crítico-reflexivo do teólogo o leva a perceber o texto como fonte de inspiração para novas e diferentes experiências de Deus no presente. A lente interpretativa da Bíblia – hermenêutica – não precisa ser literalista, fundamentalista ou com ênfase proposicional, no sentido de uma busca desenfreada pela Verdade Absoluta na letra do texto. O teólogo analisa o texto, analisa o mundo atual e se pergunta como o Cristo das Escrituras encarna no séc. XXI. Produzir teologia é criação de espaços para pessoas encontrarem Deus hoje, em seu respectivo contexto.
As possibilidades que se abrem são muitas. A Teologia de teólogos empenhados em produzir – não reproduzir – sente as dores do mundo, tem vontade de quebrar as correntes dos presos, de tornar a fome passado, de ver beleza no pobre que sorri pelo pão que é dado. A vida humana, a sociedade, o pecado estrutural, a arte, a política, nada fica imune ao Cristo encarnado no agora. Nesse sentido, o teólogo é um artista, pois iluminado pelo texto sagrado e atento aos gritos de socorro do mundo, produz conteúdos que alcançam corações e fazem desejar nova vida. O leitor, através da “arte teológica”, percebe a possibilidade real de encontro com Deus, encontro este que o fará não ser mais o mesmo. A história de Pedro, Tiago e João ou Abraão, Isaque e Israel, torna-se a história do leitor. O leitor passa de oprimido para libertador nas mãos do Deus que o libertou. Texto vira vida. Vida com boa notícia e fé que faz da vida aventura com Deus.
Parabenizo neste dia do teólogo os colegas e amigos que produzem uma teologia que encanta o mundo, inspira vidas e que encarna o Cristo. Parabenizo, portanto, artistas nas mãos do Oleiro.
André Anéas
Círculo Teológico-Filosófico
A existência do Círculo Teológico-Filosófico é algo que devemos estar convictos. Além disso, é fundamental nossa compreensão a respeito deste círculo. Fundamental porque para aqueles que estudam teologia e farão teologia, o não entendimento do círculo, ou ciclo, pelo qual o teólogo vai caminhar, acatando ou não preposições argumentadas, poderá acarretar em uma inocência passível de questionamento por parte dos receptores de sua teologia, sejam eles receptores de uma teologia prática ou “acadêmica”.
O filósofo tem por “vocação” o compromisso com a busca pela verdade. Esta “verdade” não é absoluta, pois sempre está passível de ser questionada, alterada, evoluída ou expandida. Devido ao seu compromisso com a verdade, cabe ao filósofo se abster de toda e qualquer influência sua ou de outrem que contamine os resultado de sua busca. Ao filósofo cabe se manter genérico e abstrato suficiente para que esta verdade se aplique de maneira essencial.
Levando em consideração que a filosofia tem desde seus primórdios o que consideramos “científico”, por levar em consideração métodos para se investigar a verdade (observação, empirismo, raciocínio), entende-se que o filósofo da religião deverá tratar deste tema – religião – com as mesmas premissas que cabem ao filósofo. Entretanto, nos iludiríamos se nos convencêssemos de que nada que o filósofo carrega em sua “bagagem” cultural influencia no resultado por sua busca pela verdade genérica e abstrata suficientemente capaz de suprir as expectativas válidas acerca da religião. Mesmo assim, o filósofo da religião possui sua vocação voltada para seu compromisso com a filosofia, e tudo o que este termo implica.
Paul Tillich critica o chamado “Teólogo Científico”, pois por ser teólogo tem em si – ou deveria ter – o compromisso (vocação?) para com a mensagem cristã. Ou seja, tendo ele um ponto de partida concreto e não sendo nada genérico ou abstrato, a ponto de buscar a verdade independente de suas convicções, ele quebra o que seria fundamental para o filósofo. O autor coloca que a tentativa deste “Teólogo Científico” de sobressair o Filósofo da Religião, porque busca imputar a mensagem cristã com auxílio de seu método, só pode ter dois resultados: 1. Ele é filosofo da religião, pois dilui a mensagem cristã em seu conceito de Religião, tornando o Cristianismo mais um caminho, atitude que, para Tillich, já tornaria seu acesso ao círculo teológico impedido; 2. Ele é – se torna – um Teólogo de fato, e busca atribuir suas verdades de maneira universal, fazendo parte do círculo teológico. Tillich entende que o “Teólogo Científico”, ao assumir a segunda posição deveria deixar de se colocar como científico e se assumir teólogo. Outra observação importante é que Tillich considera que o Teólogo Científico é na verdade um Filósofo da Religião.
Portanto, é possível compreender que o Círculo Teológico-Filosófico é para o Teólogo o momento em que ele passa a abrir diálogo para questões filosóficas – naturalmente científicas, dentro das mais diversas disciplinas – sendo colocado em “cheque”, pois se torna necessário rever e tomar posições sobre diversos assuntos teológicos. Para alguns, este “diálogo” é considerado saudável e muito proveito, muito embora Tillich tem uma posição crítica quanto a estes, pois acabam por ser Filósofos da Religião. Já outros, naturalmente mais ortodoxos, tendem a olhar este “desbravamento” e “idas e vindas” (círculo) do teólogo à filosofia – da religião ou não – com mais cautela, cientes de riscos de comprometer o compromisso inicial do teólogo: a mensagem cristã.
André Anéas / Cláudio / Orfeu
Bibliografia:
TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. 6. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
O Que Está na Moda? [Ser Crente Está na Moda?]
No meio evangélico temos passado por muitas tendências e muitos modismos. Toda esta realidade de shows, eventos e programações especiais tem nos cercado. Temos visto e comprovado igrejas lotadas e o número de evangélicos crescer no Brasil.
Nós que frequentamos igreja temos convivido com muitos cristãos. Pessoas tem passado por nossa vida e não é difícil encontrar exemplos de quem está firme em Deus e depois não está mais, de quem está com uma frequência alta nos cultos e que depois some de vista ou aqueles que embora estejam sempre presentes nos cultos e eventos cristãos são uma pessoa na igreja e outra, bem diferente, lá fora.
O se intitular evangélico está na moda. Existe esta tendência. Por exemplo nos EUA ser crente se tornou algo muito comum. Em quase todas as famílias as pessoas se intitulam cristãs (cristãos nominais). Creio eu que aqui no Brasil estamos caminhando para isto.
É perceptível também a quantidade de cristãos que inventam moda. Antigamente ser um crente no Senhor significava ser separado do mundo, ter uma vida de oração, ter comunhão com os irmãos, conhecer e prosseguir em conhecer a Deus. Dentro deste “antigamente” as disciplinas espirituais eram muito mais valorizadas. Mas esta geração tem sido marcada muitas vezes não pelo SER crente em Cristo, mas sim pelos shows, eventos, busca de bens materiais (teologia da prosperidade), busca do conforto, de ouvir aquilo que gosta, de se vestir conforme der na telha, falar sobre vãs filosofias, ser crente e não participar da igreja e infelizmente, por muitas vezes dar “brechas” para as coisas do mundo contaminarem o meio cristão em que estamos inseridos. Ser um crente “descolado” está na moda.
Entretanto, o simples fato de se dizer cristão não significa que nos torne verdadeiros cristãos. Ser um verdadeiro cristão não tem nada a ver com tendências e modismos, pois ser parte da igreja do Senhor é algo atemporal, porque não está preso as modas e tendência do mundo.
[confira esta série de posts sobre o tema: “Ser Crente Está na Moda?”]
1/6 – Modas e Tendências [Ser Crente Está na Moda?]
André Aneas